Cai o Pano #Crítica




De Agatha Christie
A casa de campo Styles tem muitos significados para Hercule Poirot. Foi ali que o detetive belga se hospedou pela primeira vez na Inglaterra. E foi ali também que resolveu seu primeiro crime na terra da rainha. Agora, um velho e doente Poirot está de volta: suas pernas não o mantém mais em pé e seu coração está a passos de dizer chega.

Se a saúde do detetive está deteriorada, seu raciocínio continua brilhantemente afiado. Através de uma carta, Poirot convida seu fiel amigo, Arthur Hastings, para passar alguns dias na velha Styles. Porém, relembrar o passado não é exatamente seu interesse, Poirot precisa de Hastings para resolver um crime que ainda vai acontecer.

Styles também não é a mesma, a casa de campo se tornou um pobre hotel, administrado pelo Sr. e a Sra. Luttrell. Quando Hastings chega, estão hospedados ali, além de Poirot e Curtiss, seu novo criado; o casal Franklin e a enfermeira Craven; Sir Willian Boyd Carrington, um rico ex-governador de províncias na Índia; o infame Allerton; a misteriosa Elisabeth Cole; o acanhado observador de pássaros Norton e a filha mais nova de Hastings, Judith.

Entre eles há um assassino em série, responsável pela morte de cinco pessoas, em todos os casos, outra pessoa foi culpada. Poirot está em sua cola. Na verdade, o detetive sabe quem é o assassino, mas não sabe quem será sua próxima vítima. Aí entra Hastings. Seu objetivo é ser os olhos e ouvidos de Poirot, e coletar todas as informações possíveis para impedir que mais uma pessoa seja assassinada.

Porém, Poirot não confia o nome do criminoso ao seu amigo, o narrador do livro. Vários motivos o impedem: X (como Poirot o chama) é muito perigoso, saber sua identidade é igualmente perigoso; além disso, Hastings é um homem transparente, seria incapaz de olhar para X do mesmo modo após saber seu histórico.

Para o leitor, o desafio é duplo: tentará descobrir, até as últimas páginas, quem vai morrer e quem vai matar. O suspense cresce conforme o leitor descobre que cada personagem tem lá seu objetivo para tirar a vida de outro. Assim como Hastings, você está às escuras, sendo manipulado pelas artimanhas da Rainha do Crime.

Em 1920, Agatha Christie iniciou uma das séries policiais mais bem sucedidas da história da literatura, com O Misterioso Caso Styles. Foi a primeira aparição de Hercule Poirot. Em 1940, a escritora criou aquela que seria sua última missão. Porém, a história ficou muito bem guardada durante 35 anos. Foi só em 1975 que Cai o Pano, o último caso de Hercule Poirot, foi lançado.

Poirot foi tão importante para Agatha Christie que a escritora só permitiu a publicação do seu final quando sabia que não conseguiria mais escrever. Cai o Pano foi o último livro publicado durante sua vida – Christie morreu apenas dois meses depois.

A história do personagem que começou em Styles acabou também em Styles, 55 anos depois. Ao lado de Sherlock Homes, Hercule Poirot é o maior detetive de romance policial, e vai permanecer assim por muito tempo. Não há nenhum escritor moderno que tenha vendido tantos livros quanto Agatha Christie. (Confira a lista dos maiores escritores de best-sellers aqui)

Eu imagino a agitação que cada lançamento da escritora causava na época, talvez muito maior que a expectativa de um novo livro de J.K. Rowling para a molecada hoje. Christie era (ainda é) um fenômeno editorial no mundo todo. No Brasil, por exemplo, quase todos seus livros foram traduzidos. O que é uma grande façanha para a época.

Toda essa popularidade, fundamentada sobre um único estilo, deve ter criado um grande desafio para a escritora: continuar surpreendendo os fãs, continuar criando histórias policiais tão engenhosas quanto as primeiras, continuar mantendo o interesse por Hercule Poirot. Para o último livro, Christie reservou a Poirot um assassino dos mais sagazes, e para os leitores um mistério muito gostoso de ser descoberto.

Em Cai o Pano, o clima nostálgico é bem forte, com muitas referências ao Misterioso Caso Styles e a outros livros da série anteriores a 1940. Assim começa:

“Quem nunca sentiu uma súbita pontada ao reviver uma velha experiência ou ao sentir uma emoção antiga?”

O fim do grande Hercule Poirot não podia ser diferente: uma súbita vontade de reviver outras de suas histórias.



Cai o Pano
Curtain – Agatha Christie, 1975
Editora Nova Fronteira
Tradução Clarice Lispector
208 Páginas

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